O animador de campo e o seu protagonismo na mobilização popular

A política de convivência com o Semiárido é um trabalho construído por muitas mãos, em várias esferas sociais e políticas. O trabalho que a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) realiza há 15 anos é, acima de tudo, um trabalho de colaboração que une diferentes realidades e culturas no Semiárido brasileiro em torno de um objetivo comum: a construção de uma nova realidade social, que entenda as características da região e aproveite as inúmeras potencialidades econômicas e sociais existentes.

O sucesso do trabalho realizado pelas numerosas organizações que compõem a ASA (cerca de 3 mil atualmente) depende principalmente da capilaridade das ações, que penetram fundo nas comunidades rurais atendidas. E para isso, uma figura é essencial para que o trabalho funcione: o animador de campo.


O animador, também chamado de animador social, animador técnico ou simplesmente técnico de campo, é a personificação do trabalho da sociedade civil organizada na ASA junto à base social. Ele faz a ponte das ações de convivência com o Semiárido com o seu público alvo, que são as famílias agricultoras.

Para elas, a proximidade com o animador de campo é bastante positiva, pois essa relação plena e horizontal constrói gradualmente o empoderamento delas nos processos desencadeados pelas ações de convivência. O primeiro exemplo disso (e um dos maiores) é o envolvimento da comunidade na decisão das famílias que possuem prioridade no acesso as tecnologias, decisão compartilhada com as Comissões Executivas Municipais (CEM’s), que são compostas por membros da sociedade civil local. O compartilhamento na tomada de decisões é um princípio básico, que se reflete em outros estágios das ações de convivência. 

O animador, pela natureza de sua atuação, desenvolve gradualmente uma relação mais humana, fundamental para compreender as necessidades das famílias agricultoras. Muitas vezes, ele interage com elas como um amigo ou mesmo membro ‘não oficial’ da família, reflexo da hospitalidade tão característica de quem vive no Semiárido. Na opinião de Heber Pedroso, comunicador popular do Cedasb e antigo animador de campo, “isso é muito mais que uma função, ser animador se torna uma verdadeira missão e acaba por resultar no surgimento de um bom sentimento a partir dessa grande e importante responsabilidade”. Para ele, é preciso criar laços de confiança e comprometimento entre as famílias e o projeto chegante, para que de fato elas entendam a sua importância e ao mesmo tempo se sintam parte integrante desse processo de construção coletiva, “pois antes de qualquer tecnologia se encher de água, ela se enche de conhecimento”.

A comunicação entre as famílias envolvidas e as organizações que desenvolvem as ações de convivência encontra, na figura do animador, o seu elo primordial. O contato continuado com as famílias faz dele uma ponte fundamental para que todos os atores e atrizes sociais envolvidos troquem informações e experiências. Logo, o animador promove a facilitação de processos de comunicação a partir da base social e também entre a base e as organizações, sendo importante também para fomentar ações de comunicação popular.

Cicília Peruzzo, no seu artigo “Comunicação nos movimentos sociais: o exercício de uma nova perspectiva de direitos humanos”, atenta para essas questões ao afirmar que “o empoderamento de processos comunicacionais autônomos tem sido percebido como necessidade enquanto canais de expressão na dinâmica de mobilização e organização popular”. Sob esse prisma, a ASA entende e constrói seus processos de mobilização popular a partir da horizontalidade nas relações, e a comunicação popular possui papel estratégico e estruturante nessa premissa.

As comunidades rurais, abraçando o protagonismo proposto pela política de convivência com o Semiárido, também se tornam fonte de multiplicadores para atuar nas ações de convivência. Boa parte das organizações da ASA compõem seus quadros com gente oriunda do seio comunitário, parte deles inclusive de famílias atendidas por projetos da rede. Segundo Mario Jacó, coordenador-executivo do Centro de Assessoria do Assuruá (CAA), o trabalho dos animadores não é um mero emprego, e sim um compromisso de vida, e que as organizações precisam ter em mente a importância de se oferecer oportunidades prioritariamente para as suas bases sociais. “Nós temos priorizado a contratação de técnicos que venham das associações comunitárias da nossa base, formados pela nossa trajetória e luta social, pois entendemos que para trabalhar conosco é preciso ter um perfil diferenciado, tem que ter militância, tem que ter ideologia”, afirma.

O animador de campo, como se vê, é um agente estratégico, não só para facilitar as ações da política de convivência com o Semiárido, mas também para intervir na construção de uma realidade mais plena de direitos nas comunidades rurais dessa grande região do país. E várias vezes essa figura se confunde com o próprio foco dessa transformação, sendo seu próprio agente transformador na realidade local.

Redação com 
Rodrigo de Castro - AsaBrasil

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